
O Dia Internacional dos Povos Indígenas, criado pela ONU em 1994, é muito mais que uma data simbólica. É um convite à ação, à reflexão e à valorização das culturas originárias — não apenas um marco no calendário, mas um momento para confrontarmos a realidade e reafirmarmos compromissos.
Em 2025, o tema proposto pela ONU é: “Povos Indígenas e Inteligência Artificial: Defendendo Direitos, Moldando Futuros”, destacando o papel da tecnologia na preservação cultural e na construção de pontes entre tradição e inovação.
Mas diante do cenário brasileiro, a pergunta se impõe: O que realmente temos a comemorar?




Realidade e desafios no Brasil
Enquanto acompanhamos o trabalho incansável — e muitas vezes pouco valorizado — da deputada federal Silvia Nobre Waiãpi (Amapá) na defesa das causas indígenas, dados recentes revelam um quadro preocupante.
Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Valor Econômico mostrou que os profissionais indígenas no Brasil ainda enfrentam desigualdade salarial, preconceito estrutural e baixa representatividade no mercado de trabalho:
- Menos de 1% da força de trabalho é composta por indígenas.
- 61% ocupam cargos operacionais, com pouca presença em posições de liderança.
- Mesmo em funções equivalentes, ganham menos que colegas não indígenas.
- O preconceito permanece como barreira diária — silenciosa, mas devastadora.
Há avanços pontuais, como programas de liderança indígena voltados à etnia Guarani no Mato Grosso do Sul. Mas, apesar de inspiradores, esses projetos ainda são exceções, não a regra.
Entre resistência e esperança
Podemos comemorar a resistência, a sabedoria ancestral, a arte, a língua, a espiritualidade e a luta contínua dos povos indígenas.
Mas o verdadeiro desafio é transformar esse orgulho em compromisso ativo com justiça, escuta e inclusão real.
Não basta garantir sobrevivência — é preciso criar condições para que esses povos prosperem.
É hora de conhecer, ouvir e respeitar as vozes indígenas, que carregam saberes e alertas urgentes.
Vozes que ecoam sabedoria
Ailton Krenak — “No dia em que não houver lugar para o índio no mundo, não haverá lugar para mais ninguém.”
Sônia Guajajara — “A ancestralidade sempre ensinou que o sentido da vida é o coletivo.”
Daniel Munduruku — “O Brasil precisa se reconciliar com sua história; aceitar que foi construído sobre um cemitério.”
Cacique Raoni — “Minha fala é para o Bem Viver.”
Márcia Wayna Kambeba — “No território indígena, o silêncio é sabedoria milenar.”
Eliane Potiguara — “A coisa mais bonita que temos dentro de nós mesmos é a dignidade.”
Célia Xakriabá — “A sociedade é como uma floresta. Quanto mais diversa, mais sustentável.”
Katú Mirim — “Nosso povo nunca morre, a raiz nos salvará.”
Gersem Baniwa — “Não há diferença entre a ciência dos brancos e a ciência indígena.”
Edilene Batista Kiriri — “Enquanto existir uma erva, uma árvore ou um rio no planeta, nós povos indígenas existiremos.”
Diversidade, Equidade e Inclusão começam aqui
Muito se fala em DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) nas empresas, mas o verdadeiro DEI começa pelo reconhecimento e respeito aos povos indígenas — que são os primeiros e verdadeiros guardiões da nossa terra.
Em vez de apenas “comemorar”, que este dia seja um marco de escuta, ação e transformação.
Porque respeitar os povos indígenas é respeitar o futuro de todos nós.